Conexão Inovadora

Por Paulo Costa


felicidade  — Foto: Getty Images
felicidade — Foto: Getty Images

Uma das coisas que mais me animam no SXSW é a infinidade de temas e de assuntos que as trilhas abordam. Procuro diversificar os conteúdos que opto por assistir para que possa ampliar meus horizontes de conhecimento. Tal qual o dr. Gregory House, nas oito temporadas da série, tinha grandes insights para resolver os problemas de seus pacientes enquanto atendia na clínica ou participava de uma conversa despretensiosa, sinto como se uma lâmpada iluminasse meus pensamentos em determinadas apresentações.

E foi exatamente isso que aconteceu enquanto a Dra. Laurie Santos, professora de psicologia da Universidade de Yale e do famoso curso “The Science of Well Being”, além de host do podcast “The Happiness Lab”, apresentava “Cinco maneiras de melhorar o bem-estar no local de trabalho: tendências emergentes da ciência da felicidade”. Seu painel era sobre felicidade, e não tem outro sentimento que descreva melhor como eu saí da sala em que ela falava. A especialista deixou clara a relação entre bem-estar pessoal e o quanto isso impacta a lucratividade das empresas. Isso porque, quanto melhor o colaborador está em sua vida privada, mais aumenta sua produtividade e, consequentemente, o lucro das companhias.

Para comprovar que não é apenas uma teoria, mas um fato, Laurie compartilhou com a audiência dados que mostram que empresas com o ambiente mais propício ao bem-estar de seus colaboradores possuem um desempenho superior a seus concorrentes. Esse é um insight extremamente importante para as startups, pois pode ser o fator determinante entre o sucesso ou não das mesmas.

Segundo ela, “as pessoas não são felizes porque ganham muito dinheiro. Elas são felizes e, portanto, ganham mais dinheiro”. Acho que essa é uma frase que traz um ótimo resumo do que as companhias, independentemente de seu tamanho, têm de tê-la como guia. Os profissionais devem ter o trabalho como ferramenta para viver, e não como a única chance de sobreviver. O que acontece a partir dessa linha de raciocínio é consequência.

Entre as dicas valiosas, reconhecer e trabalhar com as emoções negativas, de modo que seja transformado em um instrumento para ser usado de forma inteligente. Como exemplo, Laurie aponta o método RAIN, que consiste em Reconhecer, Aceitar, Investigar e Não Identificação.

A partir do momento que sentimos algo, é preciso reconhecer que aquela emoção está ali e que, como seres humanos, não temos um controle remoto para ligar, desligar, aumentar ou diminuir sua intensidade. Muitas vezes podemos tentar mascará-las, mas elas não vão embora por conta dessa reação.

No segundo momento, existe a necessidade de aceitá-las. E, de acordo com as leituras que fiz após as palavras de Laurie, parece que esta é a etapa mais difícil, mas a com maior potencial transformador. Especialistas dizem que é libertador nos acolher em relação à emoção e sermos empáticos, como seríamos com outros seres humanos, ao entender que está tudo bem.

Em seguida, tem início a investigação a respeito daquele sentimento, sem focar na reação mental, mas nas sensações físicas. O que é possível observar e descrever?

E, por último, mas não menos importante, é não identificar, o que significa internalizar que emoções são passageiras e que não somos o que sentimos. Fazer uso dos verbos corretamente, como estou com raiva ou estou triste, e não um estado permanente de ser essas emoções.

Recentemente, trouxe em um artigo sobre o que não te contam sobre a cultura de inovação, alguns paradoxos que ficam escondidos nessa jornada. E acrescentaria que lidar com sentimentos negativos e frustrações faz parte desse caminho. Inovar é resistir não somente aos seus receios e emoções, mas também aos daqueles que estão ao seu redor, enfrentando esse desafio com você.

Outro tópico abordado por Laurie para ter mais felicidade no ambiente de trabalho é a proteção do tempo livre e reconsiderar a velocidade da produtividade. De uns tempos para cá, tenho visto essa cobrança por produtividade. Mas acredito que o ideal é buscar equilibrar ambos os lados: eficiência e ócio criativo, com tempo para atividades que nos tragam prazer, sem, necessariamente, alguma grande realização.

Esse olhar para o bem-estar é imprescindível para o mundo corporativo -- afinal, por trás de produtos, projetos e resultados, estão as pessoas.

*Paulo Costa iniciou sua carreira como empreendedor digital com a participação na fundação e desenvolvimento de diversas startups. Em 2015, passou a fazer parte do mundo executivo na Accenture, onde ficou por cinco anos como diretor de inovação, boa parte deles dentro do próprio Cubo. O atual CEO do hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico do Itaú também foi um dos responsáveis por apoiar o fundo Neo Future, da gestora de fundos de investimentos Neo, onde conduzia desafios relacionados a estratégias digitais e inovação, tendências e comportamento de consumo.

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